4.7.12

Ciência: O coração de um gorila.


Idi Amin, 37, único gorila da América do Sul, no zoológico de Belo Horizonte (MG)
Caio Guatelli



O último rei do Brasil morreu aos trinta e oito anos no dia 7 de março de 2012 em Belo Horizonte e era um gorila. Nasceu na África e foi levado à França de onde foi enviado ao zoológico da cidade mineira em 1975, aos três anos de idade, acompanhado de uma gorila da mesma idade. Ele foi batizado de Idi Amin e ela de Dadá. Talvez o nome escolhido tenha influenciado nas agruras que passaria este primata até o fim de sua vida, como uma punição pelos pecados que o outro, seu homônimo humano, nunca sofreu em vida.

Dadá também não teve muita sorte. Morreu em 1978. Idi ficou curtindo a companhia solitária de um pneu até 1984. Cleópatra, uma gorila do zoológico de São Paulo que apanhava de seu companheiro de jaula Virgulino, foi levada para o lado de Idi. Não teve destino melhor e morreu apenas 14 dias após chegar a BH. Uma conclusão pode-se tirar até aqui: melhor repensar a estratégia de colocar nomes de personalidades humanas questionáveis em gorilas.

Idi viveu com seu pneu pelos próximos 24 anos. A busca por companheiras continuou, mas era complicada. A espécie estava ameaçada de extinção e havia poucas fêmeas em cativeiro no mundo. A gorila mais famosa do mundo, Koko, também nasceu nos anos 70. Ela nasceu no zoológico de São Francisco (EUA), mas  em um laboratório aprendeu o que a tornou famosa: a linguagem dos sinais. Seu nome vem do japonês Hanabiko, que significa fogos de artifício, homenagem a seu dia de nascimento, 4 de Julho, dia da Independência dos EUA. Bem mais poético que um ditador sanguinário africano. Era muita areia pro caminhão do Idi.

O companheiro de Koko, Michael, aprendeu com ela a linguagem dos sinais e ficou famoso por dar a entender que lembrava da morte de sua mãe por caçadores nas florestas africanas. Consta que Michael pintava, sua cor preferida era o amarelo e gostava de ouvir músicas de Pavarotti. Ele morreu em 2000 e Koko manteve luto por muitos meses.

Idi não conhecia a linguagem de sinais, porém não tinha nada a dizer que todos já não soubessem. As saudades de Dadá, as alegrias com o pneu, a irritação com as crianças que apareciam no zoológico para vê-lo.  Poderia ficar sabendo também que era o único macho da espécie em toda América Latina. Em 2008, porém, seu discurso mudaria. Chegaram a BH não uma, mas duas fêmeas de 8 anos para fazer companhia ao já maduro solitário. Idi passou os últimos quatro anos de sua vida com elas, feliz.

3.7.12

Guia.


“The knowledge of all things is possible” ― Leonardo da Vinci